Olá leitores de plantão, nossa diretora Dra Patricia Borges foi convida para uma entrevista sobre o Alcoolismo e a importância do consumo consciente de bebidas alcoólicas, achamos muito legal e para conscientizar todos os nossos leitores e pacientes resolvemos trazer esse conteúdo para vocês.
Pergunta: Justamente no sábado de Carnaval, comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. Qual é a relação que você vê entre essas duas datas?
Dra Patricia: O Carnaval é celebrado no Brasil há longa data, representando uma comemoração de muita alegria, em que toda a população brasileira se envolve em festas e grandes eventos, com reuniões familiares e entre amigos, em que a fantasia é uma das principais formas de representatividade dos brasileiros, que mesmo fora do país, também celebram o momento.
Entretanto, como sabemos, grande parte dessa comemoração também ocorre envolvendo o consumo de bebidas alcoólicas de forma exagerada, muitas das vezes com inúmeras consequências para o próprio organismo, como alterações do trato gastrointestinal, alterações psíquicas e até mesmo o desenvolvimento de hepatite aguda causada pelo álcool.
A escolha da data oficial do Carnaval é definida a cada ano e coincidentemente neste ano, será celebrado no sábado de Carnaval, dia 18 de Fevereiro, o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. Esta coincidência poderia nos levar a pensarmos ainda mais sobre a necessidade do consumo consciente de bebida alcoólica, mesmo diante de datas comemorativas tão importantes para a população brasileira.
É importante lembrarmos de que é possível aproveitar as comemorações do Carnaval sem exageros ou cuidados com a saúde.
Pergunta: Em época de Carnaval, muitas pessoas acabam exagerando no consumo de bebidas alcóolicas. Quais cuidados você recomenda para aproveitar a festa com equilíbrio?
Dra Patricia: Em datas comemorativas é sempre importante se alimentar adequadamente, com alimentos naturais, frutas e vegetais, evitando alimentos gordurosos e excesso de doces, e aumentar o consumo de líquidos naturais, especialmente a água, que além de ajudar no metabolismo do álcool, melhoraria ainda a circulação dos diversos órgãos, evitando assim a conhecida “ressaca”.
Pergunta: Existe alguma quantidade de álcool segura para beber ou algum tipo de bebida que pode ser menos ou mais prejudicial? É diferente entre homens e mulheres, certo? Se puder explicar a respeito.
Dra Patricia: Diversos estudos mostram que existiria uma quantidade de bebida alcoólica a consumir, que seria considerada “aceitável” de acordo com o sexo, em torno de 14g/dia para mulheres e 21g/dia para os homens, a qual variaria conforme o tipo de bebida alcoólica.
Em média, um exemplo seria o consumo em torno de 7 latinhas de cerveja para mulheres e em torno de 14 latinhas para os homens.
Entretanto, essa quantificação se torna difícil de ser aplicada especialmente em pacientes já alcoolistas, que nesses casos, devem já estar em acompanhamento com um especialista, pois nesse caso, esta quantidade já seja considerado um excesso.
Uma atenção especial deve ser dada também aos pacientes que já possuem alguma doença hepática crônica, como a esteatose hepática ou a “gordura no fígado”, e as hepatites virais, que podem causar uma inflamação crônica do fígado.
O ideal nestes casos seria evitar de qualquer forma o consumo de bebida alcoólica, para que não haja piora da doença, levando ao desenvolvimento de cirrose e até mesmo o tumor de fígado.
Pergunta: Quais são os riscos do consumo descomedido de álcool, seja a curto, médio ou longo prazo?
Dra Patricia: A curto prazo, o consumo exacerbado poderia levar ao que conhecemos por uma Hepatite aguda causada pelo álcool, ou “Hepatite Alcoólica”, que leva a uma inflamação aguda do fígado, e até uma pancreatite aguda, com uma inflamação aguda do pâncreas, muitas vezes com necessidade de uso de medicações e até internação hospitalar.
Nesses casos, muitos se recuperam com a retirada completa do álcool e os cuidados especializados. Entretanto, em casos mais graves, se o paciente já tiver uma doença crônica do fígado, esta exacerbação poderia levar até a insuficiência hepática, com necessidade de transplante hepático. E infelizmente a doença hepática alcoólica, sem o cumprimento de um tempo mínimo de abstinência, não permitiria a inclusão em lista de transplante de fígado.
A longo prazo o consumo de bebida alcoólica também pode levar a sérios danos no fígado, como a cirrose e o tumor maligno de fígado, como o hepatocarcinoma; e no pâncreas, poderia levar a pancreatite crônica.
Além desses existem ainda os possíveis danos neurológicos, como as síndromes demenciais, além de alterações do trato gastrointestinal, como as gastrites e úlceras pépticas, diarreia,entre outras. Todo o consumo de bebida alcoólica deve ser feito com moderação e uso consciente.
Pergunta: Pessoas com comorbidades devem ter algum cuidado extra? Se sim, por que e quais são eles?
Dra Patricia: Pacientes que já possuem alguma doença crônica, como diabetes, hipertensão arterial, esteatose hepática, doenças neurológicas, alterações do colesterol ou doenças do trato gastrointestinal, devem tomar cuidado de sempre buscar um acompanhamento especializado em suas comorbidades, e sempre lembrar de contar ao seu médico que está consumindo bebida alcoólica, pois isso pode interferir no seu tratamento e até na absorção dos medicamentos de uso contínuo.
Pergunta: Existe mesmo a questão de predisposição ao alcoolismo? Se sim, o Carnaval pode ser um gatilho? Quais recomendações especiais pra esse público?
Dra Patricia: A história familiar do alcoolismo é uma questão muito importante e que deve ser lembrada em toda abordagem ao paciente alcoolista. A predisposição genética é uma questão que tem sido estudada há muitos anos e sabe-se que pode interferir e até ser um fator desencadeante do alcoolismo.
Entretanto, além dos fatores genéticos, as questões sociais, relacionadas ao meio externo também exercem forte associação, como problemas financeiros, de relacionamentos, doenças psíquicas como a depressão e ansiedade, que podem ser um gatilho para o aumento do consumo do álcool, assim como a insegurança e o próprio medo de situações que fogem ao equilíbrio emocional de cada paciente.
A principal recomendação é a busca pela realização de atividades que possam trazer de volta esse equilíbrio, mental e físico, como a realização de atividade física, uma alimentação saudável, buscar estar cercado de pessoas que lhe desejam bem, e realizar atividades que geram esse bem estar, fazendo com que a bebida alcoólica não seja mais um “refúgio”, ou uma “fuga” para os problemas que sempre existirão.
Pergunta: E para quem exagerou na bebida, o que pode acontecer? Quais dicas você dá para minimizar as consequências?
Dra Patricia: Para quem exagerou no consumo de bebida alcoólica em algum evento ou sabe que irá exagerar especialmente agora no Carnaval, minha dica é:
- Evitar o consumo exagerado, e, se for consumir, busque sempre aumentar o consumo de líquidos naturais, como a água, durante o consumo de bebida alcoólica.
- Ter uma alimentação saudável, equilibrada, rica em vegetais e frutas.
- Dormir bem para que o organismo possa “descansar” após momentos festivos, no mínimo 8 horas por noite.
- Realizar atividade física, no mínimo 3 horas por semana, intercalados a cada 2 dias, com exercícios aeróbicos e anaeróbicos, para que o seu organismo se previna de complicações relacionadas ao álcool.
- E sempre, realizar exames preventivos, de check-up anual, para que as alterações sejam encontradas precocemente e tratadas antes que evoluam para alterações crônicas e com tratamentos restritos.
Se você ou alguém que você conhece está lutando contra o alcoolismo, saiba que a ajuda está disponível. Não hesite em procurar apoio e tratamento adequado. Entre em contato conosco no Instituto do Fígado para obter mais informações e orientação sobre como lidar com o alcoolismo de forma saudável e consciente. Juntos, podemos vencer essa luta!